Dizem que uma das piores táticas é contar alguma coisa por meio de números, já que as pessoas não lembram de números, mas de histórias.
Pois bem, “Zezé di Camargo & Luciano”, o disco que você tem em mãos, conta 16 (belas) histórias. E são essas que ficarão. Mas é impossível falar da dupla sem falar de números, pois estes são impressionantes.
Se você quer o resumo em apenas um escore do que os dois goianos de Pirenópolis conquistaram em 17 anos de carreira, basta dizer que nestas quase duas décadas eles venderam aproximadamente 3 discos/CDs por minuto.
Sim, a conta não está errada. Foram 26 milhões de cópias de seus 19 álbuns (contando os CDs de carreira, os dois trabalhos em espanhol e um duplo ao vivo).
Em pesquisa recente, a dupla, que faz em média 120 shows por ano com 30 mil pessoas (também em média) por apresentação, foi apontada como artistas mais populares, mais escutados e preferidos do Brasil, em 2007 e 2008 (pesquisa Datafolha). Chega de números?
Mesmo com todo esse estofo, a primeira faixa do trabalho que leva o nome dos filhos de Francisco é um depoimento de Zezé em que ele diz: “Os últimos anos foram os mais difíceis da minha carreira”. Mas fecha os 40 segundos iniciais otimista: “Deus me ensinou que mais bem tenho para dar do que mal para tirar”.
Emendam com uma das mais belas composições de outra célebre dupla, Roberto e Erasmo Carlos, “A Distância”, em violão e voz e versão emocionante.
Um bom exercício da capacidade de composição da dupla vem na faixa seguinte, “O Que Vai Ser de Nós”. Pegue o refrão: “Eu vou pagar pra ver/ Mas na verdade sou completamente louco por você/ Sei que pisei na bola e agora posso ver/ Que só aprontei, te machuquei, te fiz sofrer”, e tente encaixar a métrica em uma harmonia. Pois Zezé & Luciano tiram de letra, embalados por guitarra e bateria.
“Nóis Namora” está entre o sotaque do xote sulista e do forró nordestino, carregada no acordeon e no mais que formal “nóis” do título e letra.
O grupo Roupa Nova faz os arranjos da bela balada “Não Quero te Perder”, e o acordeon volta dando um toque country em “Estrada do Amor”.
“Perdi você/ Sem a gente brigar/ Com meu medo de amar”, canta Luciano na balada de violão “Faça Alguma Coisa” abrindo a porta do disco para uma viagem pelo Brasil.
“Nunca Amei Assim” tem cheiro de café, de terra, e é tão rica em detalhes que vale ouvi-la com fones de ouvido, prestando atenção às camadas de som.
O passo seguinte da dupla é no Maranhão, no acento reggae com cheiro de praia de “Valeu Demais”.
“Pelos Botecos do Brasil” mantém a viagem pelo Nordeste com naipe de metais.
E voltam ao sertanejo em “Agora”, com belo texto: “Não quero te perder/ Não quero escolher a solidão”.
Mais uma vez acionam guitarra, que segura o refrão, em “O Melhor é Dar um Tempo”.
Já “Vida Boa” é hedonista ao talo, um verdadeiro hino ao prazer.
Zezé di Carmago & Luciano pegam a estrada de volta ao sertanejo romântico em “Amor Correspondido”,
e o naipe de metais encontra um arranjo de cordas em “Prisioneiro da Saudade”.
Mas a viagem só termina com a linda versão instrumental, em violão e acordeon, do chamado clássico da dupla, “É o Amor”. Ao menos a canção que os levou à fama nacional em 1991.
São tantas as histórias que não foi nem preciso falar de “Dois Filhos de Francisco”, a saga da dupla no cinema.
As 16 histórias de “Zezé di Camargo & Luciano”, dedicadas a Silvinha Araújo pela dupla, bastam para sustentar o que eles fazem de melhor – música boa.
E não sou eu quem o digo, mas o Brasil.
by Renato Victtor
O que você achou do novo CD de Zezé di Camargo e Luciano - 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário